segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Em louvor da sombra...


Passei rapidamente pela ocupação artística que ocorreu pela quarta vez, nesse último domingo, num complexo industrial em Santo André. A interação dos artistas com o espaço era algo visceral, mas um em especial me chamou atenção. Alguém aqui vai fazer o favor de identificá-lo, pois não me senti no direito de interromper seu silêncio para perguntar-lhe o nome, de onde vinha ou qualquer outra informação por demais racional para a ocasião. A parede escolhida era uma das tantas que compunham o subterrâneo das torres de concreto. Primeiro um esboço, tomado em seguida por uma sequência de delicados gestos que iam resignificando aquele espaço amparado por sombra e poeira. Uma luz sutil acariciava o suporte e trazia, aos poucos, vida aos olhos. Passei uma, duas, três, quatro vezes. O artista continuava imerso e as cores começavam a surgir e então parei para contemplar. um pouco pela temática, mas sobretudo pela relação com o espaço, me veio à mente uma inevitável lembrança. Um texto adorável de Junichiro Tanizaki, escritor japonês, de onde retirei esse fragmento do livro Em louvor da Sombra: "A tonalidade profunda e complexa, a massa semitransparente e nublada de misteriosa profundidade que atrai e retém a luz em forma de tênue e sonhadora luminosidade". Aqui Tanizaki se referia à coloração do youkan, o tradicional doce de feijão azuki. Para se comer com os olhos, assim como também o belo ato em curso nessa fábrica abandonada em terras de João Ramalho...

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